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Lágrimas também curam

Estamos em novembro de 2024. Marcella faleceu em junho de 2022, e não consigo dizer o momento exato, nestes quase 30 meses, em que entendi que apenas eu poderia me curar daquela dor imensa. Era eu quem precisava encontrar um conforto razoável que me permitisse seguir em frente.

Não sei se você que me lê agora já teve a experiência de perder alguém muito especial, mas com certeza, se você é uma mãe que perdeu um filho, irá se identificar. E não, este texto não é só para mães enlutadas. É para todas as pessoas que perderam alguém e também para aquelas que não perderam, mas têm interesse em saber como é vivenciar o luto.

Também não sei dizer se passei pelos estágios na ordem certa ou mesmo se já passei por todos eles. O certo é que dói, dói demais. No meu caso, houve e ainda há uma dinâmica que venho tentando acompanhar. No início, o sentimento era de tristeza, muita tristeza. Eu não consegui, e nem tentei, impedir. Eu estava realmente triste. Sem exagero, eu sentia dor física ao respirar e, às vezes, achava que não ia conseguir. Nesse período, que durou alguns meses, eu chorava e depois chorava novamente.

Recebi muito apoio. Família, amigos próximos, colegas de trabalho, todos deram, cada um a seu modo, sua contribuição para que eu me restabelecesse. Isso foi muito importante. Até então, eu nunca tinha me dado conta da verdadeira importância de um abraço, de uma palavra de afeto, de chorar junto…

O tempo foi passando e a vida das pessoas voltando ao normal. E eu pensava: Como assim? As pessoas vão esquecer? Eu vou ter que aceitar? Perceber que a vida dos outros e também a minha continuavam existindo foi quase cruel. Aí chegou o tempo em que as pessoas não entendiam mais por que eu continuava sofrendo. Volto a dizer que tive muito apoio e nunca me faltou colo nesse processo. A questão é que a vida segue mesmo e, para quem não está sentindo aquela dor, é difícil e complicado tentar ajudar.

Chegou, então, a fase em que eu preferia ficar sozinha. Se tivesse vontade de chorar, eu chorava, mas sozinha, ninguém via. Eu escrevia para Marcella. Textos longos, textos curtos, uma única frase… e isso foi me ajudando a transformar aquela tristeza.

Hoje, não posso dizer que não dói mais, porque não é verdade. E ainda choro. Não sozinha. Às vezes, me lembro dela, assim do nada, e sorrio, é alguma lembrança boa. Outras vezes, choro, mas não me preocupo em chorar escondida, até porque a lágrima vem com tudo e escorre, sem que eu me dê conta ou consiga controlar.

A tristeza deu lugar à saudade, e essa nunca vai passar. Então, penso que é assim mesmo. O luto nunca acaba, mas a gente pode conviver de maneira pacífica com ele. Admiro muito a história de Chico Xavier, e há uma frase dele que hoje faz muito sentido para mim: “A saudade é uma dor que fere nos dois mundos”. É uma frase reconfortante, que me faz acreditar que esse amor imenso que tenho dentro de mim é correspondido em algum cantinho do universo pela minha eterna menina.

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Lucimar Santos
Lucimar Santos
1 mês atrás

Impssível ler e não chorar! Thella era um ser humano tão evoluido, que jamais deixará de ser um anjo protetor para todos nós. Compartilhamos da sua dor!

Cris
Cris
1 mês atrás

Que lindo minha amiga. Estou vivendo este processo de luto pelo meu pai e me identifiquei muito com seu texto mas não dá pra imaginar sua dor, em perder uma filha. Na verdade, ninguém pode imaginar a dor do outro, pois a dor ela é de cada um e só quem passa sabe quão difícil é.