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Antes da maturidade

Eu sempre fui muito falante. Timidez? Talvez um pouco na infância – escola nova, amigos novos, cidade também. Mas foi uma fase curta. Apesar de nada tímida, ao longo da vida, sempre carreguei uma preocupação imensa de ocupar um espaço que não me pertencia. E foi por isso que cometi o que considero a atitude mais imatura da minha carreira, quando transmiti insegurança numa hora muito errada.

O ano era 1998, e eu trabalhava no Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea-MG). Após estagiar no Conselho, fui contratada como jornalista assim que me formei. Era muito querida e desempenhava bem meu trabalho. Não preciso ser modesta aqui. Como mencionei no post “Comunicar para Transformar”, já que não fui para uma revista, faria bem o trabalho na assessoria de imprensa.

A jornalista responsável pela comunicação estava de férias quando o edifício Palace II, no Rio de Janeiro, teve um segundo desmoronamento. O prédio havia sido construído por um engenheiro de Minas Gerais, e, na semana anterior, um domingo de Carnaval, uma parte dele já havia desmoronado levando ao chão 44 apartamentos. Oito pessoas morreram soterradas e 176 moradores ficaram desabrigados. Da segunda vez, um bloco inteiro caiu 30 minutos após um laudo, feito por engenheiros mineiros, permitir a volta dos moradores que haviam evacuado após o primeiro incidente, para pegarem seus pertences.

Pronto! O caos estava instalado no Crea Minas. O evento foi no Rio, mas o engenheiro responsável era mineiro, e deputado federal, à época. Como já citei, também eram mineiros os engenheiros que emitiram o laudo. Foi um Deus nos acuda! A imprensa do Brasil inteiro queria ouvir um representante do Crea. Os engenheiros foram convocados a prestar esclarecimentos, e eu, que trabalhava na assessoria, pautei a imprensa.

Os dois engenheiros não ficaram nada felizes ao chegar e encontrar um cenário repleto de repórteres com câmeras, microfones e caderninhos. Passaram direto para a sala do presidente e me chamaram. Eu estava lá, junta e misturada com a imprensa, cumprindo meu papel de esclarecer os jornalistas. E esse é sim, papel do assessor. É preciso defender e cuidar da imagem a empresa, mas não dá pra cercear o trabalho da imprensa. Foi pra dar transparência que eu informei que a reunião aconteceria. Nada de errado nisso.

Cheguei naquela sala cheia de homens, sendo que aqueles dois estavam muito bravos e talvez por isso, eu tenha caído em desgraça. Um deles me perguntou:

  • Você é a assessora de imprensa do Crea?
  • Não! (Olha a imaturidade. Era só falar sim, estou respondendo pela assessoria. Era a verdade)
  • Então por que você convocou a imprensa?
  • Porque é meu papel esclarecer os jornalistas sobre o que está acontecendo, já que o caso teve repercussão nacional.
  • Mas você não é a assessora…

Começou um bate-boca, do qual até hoje me arrependo, assim como me arrependo de não ter dito que sim, naquele momento, eu era a assessora. Por excesso de zelo, para não parecer que estava ocupando o espaço da colega, fui humilhada publicamente. Dali em diante, fiz o meu trabalho, mas confesso que fiquei muito apreensiva.

A reunião demorou a começar e a acabar. Só depois os envolvidos atenderam a imprensa. Próximo das 2 da manhã, entrei no carro do Crea com o motorista e aqueles dois engenheiros, que, por enquanto, me odiavam. Imagine a cena: eu, exausta, compartilhando o carro com dois senhores que passaram o dia me fulminando com os olhos. Se houvesse um prêmio para a carona mais desconfortável do ano, eu certamente ganharia! Só depois de deixá-los fui para casa, com aquela vontade de voltar algumas horas no tempo e assumir uma postura diferente.

Eu era recém-formada e foi um evento grande demais para eu segurar sozinha. Sim, fiquei insegura e sim, foi muito chato. E foi um aprendizado que trago comigo. A gente erra, mas precisa aprender com os erros. Pouco tempo depois desse episódio, eu assumi a assessoria de imprensa do Conselho e aqueles engenheiros não voltaram lá pra ficar sabendo disso. Mas eu considero que a atitude deles foi importante para eu me moldar como profissional. Eu não ocupo o espaço de ninguém e é público que tenho um espírito de liderança bem forte. Então, eu exerço essa liderança. Agora, com segurança e sem bate-boca (rs).       

Hoje, olhando para trás, vejo que aquele momento de insegurança foi um ponto de virada na minha carreira. Ele me ensinou que ocupar nosso espaço não é uma questão de arrogância, mas de responsabilidade. Cada desafio, cada erro, cada situação desconfortável nos molda e nos prepara para os próximos passos.

A jornada profissional é feita de altos e baixos, de momentos de glória e de tropeços. O importante é manter a resiliência e a disposição para aprender. Aquela jovem jornalista insegura de 1998 se transformou em uma profissional confiante e capaz de liderar com empatia e firmeza.

Se pudesse voltar no tempo e dar um conselho àquela versão mais jovem de mim mesma, diria: “Confie em si mesma. Você está exatamente onde deveria estar, fazendo exatamente o que deveria fazer. Seu lugar é aqui, agora.”

A todos que estão começando suas carreiras ou enfrentando momentos de dúvida, lembrem-se: os erros não definem você, mas a maneira como você reage a eles, sim. Abracem os desafios, aprendam com as dificuldades e, acima de tudo, ocupem seu espaço com confiança e integridade. Afinal, é assim que nos tornamos não apenas profissionais melhores, mas seres humanos mais completos.

O tempo não volta, mas nos presenteia com a sabedoria para fazer melhor da próxima vez. E é essa sabedoria que nos impulsiona adiante, nos tornando líderes capazes de inspirar e transformar não apenas nossas próprias vidas, mas também as daqueles ao nosso redor.

 

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