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Português da internet: Do ‘eh’ aceitável ao ‘àh’ que quebrou meu Instagram

Tenho acompanhado há anos as transformações que a internet trouxe para a nossa Língua Portuguesa. Algumas são práticas, outras divertidas, mas de vez em quando surge algo que me deixa genuinamente perplexa. Foi o que aconteceu neste fim de semana enquanto eu navegava pelo Instagram. Lá estava eu, rolando a timeline, quando me deparei com uma frase que dizia: “Isso aconteceu àh mais de quatro anos”. Sim, você leu corretamente. Àh. Com crase. Precisei ler duas vezes para acreditar. Não era um simples “ah” (interjeição de surpresa), nem o correto “há” (verbo haver, indicando tempo passado). Era uma criação completamente nova: uma interjeição com crase! Confesso que ri. Ri muito. Há erros de português que nos irritam, outros que passam despercebidos, mas alguns são tão criativos que chegam a merecer aplausos pela originalidade. Este, sem dúvida, ganhou o troféu de “erro mais criativo” que vi em muito tempo. A linguagem da internet tem suas próprias regras. Abreviamos para digitar mais rápido, criamos códigos que só os iniciados entendem, e isso é parte da evolução natural da comunicação. Afinal, a língua é viva e se adapta aos tempos. O “vc” no lugar de “você” economiza caracteres e tempo. O “pq” substitui perfeitamente o “porque” quando estamos com pressa. Até o “eh” usado para substituir o verbo “é” já virou um clássico das conversas on-line. São simplificações que, embora não sigam a norma culta, cumprem seu papel comunicativo. Mas o “àh”? Isso é ir longe demais! Há ou a? Um dilema comum (mas sem crase, por favor!) A confusão entre “há” e “a” para indicar tempo é uma das dúvidas mais frequentes do português. Há = verbo haver, indica tempo passado Exemplo: “Isso aconteceu há mais de quatro anos.” A = preposição, indica tempo futuro Exemplo: “Estarei lá daqui a quatro anos.” A regra é simples: se puder substituir por “faz” (tempo passado), use “há”. Se estiver falando de tempo futuro, use “a”. Mas acrescentar uma crase e transformar isso em “àh” é como criar um portal para uma dimensão paralela da gramática onde nada mais faz sentido! A criatividade tem limites (ou deveria ter) Não sou purista da língua. Acredito que o português, como qualquer idioma vivo, está em constante evolução. As gírias de hoje podem ser o vocabulário formal de amanhã. A informalidade das redes sociais tem seu lugar e seu valor. No entanto, algumas inovações não são evoluções, são apenas… confusão. Quando vejo um “àh” com crase, não estou testemunhando a evolução da língua, estou vendo alguém que talvez precise revisitar algumas aulas básicas de português. E o mais interessante é que adicionar a crase exige um esforço extra! É preciso configurar o teclado, apertar combinações de teclas ou procurar o caractere nos símbolos. Dá mais trabalho escrever errado do que acertar! O internetês que podemos tolerar Para não parecer a professora de português rabugenta que todos temiam na escola, vamos concordar que algumas licenças poéticas do mundo digital são aceitáveis: Os já mencionados “vc”, “pq” e “blz” – abreviaturas que poupam tempo O “q” no lugar de “que” – embora eu particularmente evite Os emojis que substituem palavras inteiras – afinal, uma imagem vale mais que mil palavras O “kkkk”, “hahaha” ou “rsrs” para indicar risadas – cada um ri como quer no texto Esses exemplos não comprometem o entendimento. São códigos que criamos coletivamente e que funcionam no contexto adequado. Um apelo bem-humorado Então, queridos leitores e navegantes da internet, vamos combinar: abreviem, simplifiquem, criem emojis novos, mas, por favor, deixem a crase em paz! Ela já é incompreendida o suficiente em seu uso correto. Não precisamos inventar usos inéditos para confundir ainda mais as coisas. Leia mais sobre a crase aqui. Da próxima vez que você quiser dizer que algo aconteceu no passado, lembre-se: é só “há”, três caracteres simples, sem firulas, sem crase, sem drama. E se você já encontrou erros ainda mais criativos que o “àh”, compartilhe nos comentários! Quem sabe não criamos uma galeria dos maiores “crimes” contra o português na internet?

Maldade disfarçada de gentileza

Hoje, quero compartilhar uma experiência que me marcou muito nos últimos dias e que revela a maldade das pessoas. Chego a pensar em pra onde o mundo está indo com tudo isso. Eu não sou ingênua, nem um pouco. Aliás, eu sempre digo que o meu maior ativo é a minha inteligência. Sem falsa modéstia, sou uma pessoa perspicaz, tenho uma facilidade grande de ver à frente, enfim, não é fácil me passar pra trás. Na semana passada, no dia do meu aniversário, fui vítima de uma tentativa de golpe. Descobri depois tratar-se de algo conhecido, o golpe do dia do aniversário. Uma pessoa te liga, tem sua data de aniversário e seu endereço e diz que é de uma floricultura, informando que alguém lhe comprou flores pela data especial. A floricultura “esqueceu” de cobrar a taxa de entrega do “meu admirador” e eu tinha duas opções: pegar na floricultura ou receber em casa e pagar a tal taxa, no valor de R$ 5,90, no cartão. Não no pix ou dinheiro, só no cartão. Escolhi a segunda opção, afinal era meu aniversário e eu não queria sair de casa para buscar as flores. O entregador chegou e fui à porta com o cartão. Segundo ele, a maquininha só funcionava por aproximação. Tenho o hábito de só aproximar o cartão depois de ver o valor no visor (algo que sempre aconselho a todos) e quando pedi a ele para ver, ele inventou um problema na máquina e não me mostrou. Pegou outra máquina, mesma coisa, não vi o valor não aproximei o cartão. Ele sugeriu que eu pegasse outro cartão, disse que não tinha, ele ligou para a “floricultura” e pediu autorização para receber em dinheiro, em seguida disse que precisaria voltar à loja para mudar a forma de pagamento. Foi embora e não voltou mais. Quando voltei pra dentro de casa, havia várias ligações do meu banco. Retornei e fui informada sobre uma série de tentativas de compras com meu cartão de crédito. Para meu azar, o banco bloqueou as tentativas de compra no crédito, mas não o fez com o débito e a pessoa conseguiu fazer cinco compras no meu cartão, sendo três delas de altos valores.  Acionei o banco e devo ser ressarcida, pois foi uma falha de segurança, já que eu não digitei minha senha e não aproximei meu cartão. O falso entregador conseguiu clonar meu cartão mesmo assim. Nessa história o valor roubado tem menos importância, não só porque vou ser ressarcida; a gente trabalha e paga as contas, isso é menor. O grande mesmo é a maldade humana. Isso acabou com o meu aniversário. Fiquei com aquele garoto na cabeça. Bonito, educado, bem arrumado… Poderia ser meu filho…  E o que me deixa mais incomodada é a frieza calculada por trás de cada ação daquele rapaz. A cordialidade, o sorriso, a educação… tudo meticulosamente orquestrado para me fazer baixar a guarda. E, por um instante, ele conseguiu. Permiti que entrasse em meu espaço, que me abordasse com sua história de taxa de entrega esquecida, sem imaginar que ali, naquele momento, eu estava sendo vítima de um golpe. Não me iludo. Sei que a maldade existe e sempre existiu. Mas o que me assusta é a banalização dela, a forma como se manifesta em pequenos gestos do cotidiano, disfarçada de cortesia e boa vontade. É como se a empatia estivesse se esvaindo, dando lugar a um individualismo exacerbado, onde o outro se torna apenas um meio para se atingir um fim, não importando os danos causados. Ainda estou com aquele rapaz na cabeça e, às vezes, me pego pensado em sua mãe, em sua família. Tento imaginar se eles teriam conhecimento de seus atos, se compartilhavam dos mesmos valores. Ou se a família está fora de tudo isso e aquele garoto diariamente engana a todos, como fez comigo. Descobri depois, conversando com pessoas próximas, que muitos jovens do convívio social delas, clonam cartões. Simples assim, garotos que as pessoas conhecem, “trabalham” com isso. Fiquei mais triste ainda. É mais comum do que eu imaginava. Aí vem a pergunta que os pais se fazem: Onde foi que eu errei?  Mas não quero me render ao pessimismo. Acredito que ainda há esperança. Que a bondade pode, sim, prevalecer sobre a maldade, desde que estejamos dispostos a cultivá-la em nós mesmos e a transmiti-la aos outros. Que possamos resgatar valores como a solidariedade, a compaixão e o respeito ao próximo, para que cenas como essa se tornem cada vez mais raras em nosso cotidiano. E, acima de tudo, que possamos nos manter vigilantes, sem perder a capacidade de acreditar na bondade humana, e ao mesmo tempo sem nos deixar enganar pela falsa cordialidade daqueles que se aproveitam da nossa boa-fé. Que possamos seguir colecionando instantes de alegria, de amor e de esperança, sem permitir que a maldade alheia nos roube a beleza da vida. ──────────────────────── Resumo: Recebi uma ligação informando que, por um erro, não foi cobrada a taxa de entrega das flores de um admirador. Durante a transação, o entregador desviou o procedimento, utilizando outro cartão e se recusando a mostrar o valor na maquininha, a fim de clonar meus dados. Após o ocorrido, fui alertada por meu banco de tentativas fraudulentas de compra, com sucesso na clonagem do débito, causando prejuízos de alguns milhares de reais. Embora o valor financeiro seja ressarcido, o mais marcante foi a constatação de que a maldade pode se disfarçar de gentileza e profissionalismo, mesmo em plena luz do dia. Lorem ipsum dolor sit amet, consectetur adipiscing elit. Ut elit tellus, luctus nec ullamcorper mattis, pulvinar dapibus leo.

Conexões que inspiram: o poder da empatia no ambiente de trabalho

Sabe aquele papo que a gente tem entre amigos e que rola natural, sem frescura? Pois é, quando a conversa sai do ambiente descontraído e chega no ambiente corporativo, a coisa muitas vezes não sai tão simples assim. Hoje, quero falar um pouco sobre empatia – sim, aquela habilidade que, apesar de ser tão importante, ainda é um dos maiores desafios na comunicação no Brasil. Empatia, pra mim, vai além do simples “colocar-se no lugar do outro”. É algo que, no nosso dia a dia, pode fazer toda a diferença nas relações interpessoais, principalmente no ambiente de trabalho.  Imagine um ambiente corporativo onde o entendimento mútuo é a base para a tomada de decisões, o desenvolvimento dos projetos e a criação de um clima saudável. A empatia faz parte dessa equação e contribui pra que cada pessoa se sinta ouvida, respeitada e motivada a dar o seu melhor. Parece um sonho, né? Mas, infelizmente, essa não é a realidade de muitos lugares. A verdade é que, em muitas empresas, a comunicação falha justamente por falta dessa conexão humana. Por exemplo, em reuniões, quantas vezes ouvimos alguém interromper o colega ou insistir em impor um ponto de vista sem se importar com as contribuições dos outros? Nessas situações, o rompimento dessa empatia acaba criando separações, gerando conflitos e, no fim das contas, prejudicando todo o processo de trabalho. Tive a oportunidade de observar de perto essas dinâmicas tanto em grandes corporações quanto em pequenas empresas. E o que percebi foi que a empatia não surge do nada; ela precisa ser construída, cultivada dia após dia. Pois é, não adianta esperar que todo mundo seja naturalmente empático. É preciso investir na escuta ativa e no interesse genuíno pelo outro. Isso é o que vai mudar a forma como nos relacionamos, tanto no trabalho quanto fora dele. Mas, afinal, por que a empatia é tão desafiadora no nosso país? Uma das respostas pode estar nas raízes culturais. Desde pequenos, muitos brasileiros são ensinados a se adaptar às necessidades dos outros, mas sem, necessariamente, desenvolver a habilidade de expressar suas próprias emoções de forma clara e sincera. Isso acaba gerando um ambiente onde muitos se sentem inseguros em demonstrar vulnerabilidade, o que é exatamente o oposto da empatia. Pensa comigo: pra criar uma comunicação verdadeira, a gente precisa, antes de tudo, aceitar que somos imperfeitos. E tá tudo bem! Aceitar nossas limitações e, principalmente, reconhecer que o outro também tem suas fragilidades é o primeiro passo pra construir relações mais verdadeiras. No ambiente corporativo, isso significa admitir que ninguém tem todas as respostas e que, muitas vezes, o caminho mais produtivo é justamente o de ouvir e aprender com os colegas. Uma conversa empática, afinal de contas, é aquela onde o “eu” se abre pra entender o “você”. E não é fácil, né? Na correria do dia a dia, entre prazos apertados e metas a serem batidas, sobra pouco tempo pra esse tipo de interação. Mas é justamente nesse contexto que a empatia faz toda a diferença. Uma mensagem simples, um elogio sincero ou até mesmo uma escuta atenta pode transformar o clima de um escritório e, consequentemente, os resultados da empresa. Tenho certeza de você que me lê agora já passou por situações onde sentiu que não foi compreendido ou até mesmo ignorado. E, nesses momentos, a empatia (ou a falta dela) se faz sentir de maneira dolorosa. Se, por outro lado, a gente consegue criar uma cultura onde o diálogo é aberto e a opinião de cada um é valorizada, o ambiente fica mais leve e produtivo. Afinal, as pessoas só tendem a se dedicar de forma plena quando se sentem respeitadas e incentivadas a contribuir com o que há de melhor nelas. No mundo dos negócios, essa abordagem também tem seus reflexos diretos nos resultados. Empresas que investem em treinamentos de comunicação, que promovem eventos para integrar os times e que estimulam a criatividade e a colaboração costumam ter índices de satisfação e produtividade bem mais altos. Não é por acaso que, atualmente, muitas organizações já perceberam que a empatia não é apenas um diferencial, mas uma ferramenta essencial pra criar ambientes de trabalho saudáveis e inovadores. Mas como desenvolver a empatia de forma prática no dia a dia corporativo? A resposta está, sem dúvidas, na prática constante do diálogo aberto e da escuta ativa. Em vez de simplesmente ouvir o que o outro diz, é preciso prestar atenção aos sentimentos por trás das palavras. Isso requer não só um olhar atento, mas também coragem para reconhecer e valorizar as diferentes perspectivas. Afinal, numa equipe diversa, cada ponto de vista conta e todos têm algo a ensinar. Aqui vão algumas dicas pra cultivar a empatia no ambiente de trabalho: Reservar um tempo pra escutar: Muitas vezes, a correria nos impede de ter conversas significativas. Tente, sempre que possível, reservar um momento pra ouvir atentamente as ideias e preocupações dos colegas de trabalho. Essa prática pode parecer simples, mas faz diferença na construção de um ambiente mais colaborativo. Valorizar as diferenças: Cada pessoa tem uma história, uma formação e um jeito único de ver o mundo. Encoraje o diálogo construtivo, de forma que todos se sintam livres pra expressar suas opiniões sem medo de julgamentos. Essa diversidade de ideias pode ser um grande trunfo pra inovação.  Praticar a autocrítica: Reconhecer os próprios erros e estar disposto a aprender com eles é essencial pra desenvolver a empatia. Quando a gente se mostra vulnerável, abre espaço pra que os outros também se sintam confortáveis pra compartilhar suas experiências e dificuldades.  Incentivar feedbacks construtivos: Em vez de críticas destrutivas, promova um ambiente onde o feedback é uma ferramenta de crescimento pessoal e profissional. Essa troca honesta de informações pode fortalecer os laços dentro da equipe e levar a uma comunicação mais eficiente.  Investir em treinamentos: Muitas empresas já aderiram a programas de capacitação que focam justamente na melhoria da comunicação interpessoal. Esses treinamentos podem ajudar a identificar pontos de melhoria na forma como nos

Aniversário com uma pitada de saudade

Nesta semana, no dia 28, o calendário me traz uma mistura única de sentimentos. É o meu aniversário – um dia que, desde sempre, foi motivo de celebração, de encontros, de abraços apertados e muita alegria. Contudo, esse dia também carrega consigo a memória da Marcella, minha filha que partiu em 2022, e que faria 37 anos. O fato de a Marcella ter nascido no mesmo dia e na mesma hora que eu, com 19 anos de diferença, foi uma das coincidências mais marcantes do destino para mim e eu já falei sobre isso aqui. Durante os 34 anos em que ela viveu, aquele dia sempre foi mais dela – um momento em que, mesmo sendo nossa celebração, o brilho dela iluminava a ocasião. Hoje, dissociar a festa do meu dia pessoal da ausência física dela é um desafio que me acompanha. Durante toda a minha vida, celebrei cada aniversário com entusiasmo e gratidão, mas desde a partida da Marcella, o dia 28 de março se transformou em dia de introspecção, de saudade e, ainda, de renovação. Não que eu negue ou minimize a dor da perda – eu aceitei a partida dela como parte da vida e agradeço a Deus todos os dias pelo privilégio de ter sido mãe de uma pessoa tão especial. Por outro lado, a falta da Marcella é como uma sombra que insiste em lembrar que, embora o tempo passe, certas marcas permanecem. O abraço apertado dos amigos, o carinho dos familiares e as mensagens de boas energias se entrelaçam com a ausência que dói, deixando esse dia carregado de sentimentos diversos. Lembro-me como se fosse ontem dos aniversários que já vivemos juntas: os almoços regados a gargalhadas, as conversas animadas, a sensação de que cada fatia de bolo celebrava não apenas a passagem de mais um ano de vida, mas também a união de uma família que se completa no riso e no afeto. Meus pais, às vezes meus irmãos com suas famílias, os amigos – todos se reuniam num ritual simples, mas cheio de amor. Hoje, é inevitável sentir falta de cada detalhe, mas também é um convite para refletir sobre a importância de celebrar a vida mesmo quando ela se veste de tristeza. Desde que a Marcella veio morar comigo em Belo Horizonte até alguns anos antes de ela morrer, meus pais faziam questão de marcar presença nos nossos aniversários. Era uma alegria só.  O aniversário de 15 anos foi em um salão de festas. No de 20, chamamos muitas das pessoas que passaram pela vida dela, como fisioterapeutas, fonoaudiólogas… Houve um tempo em que ela passou a não gostar do “Parabéns pra você”. Nessa fase, que durou alguns anos, a gente não cantava pra ela não chorar. Houve ano em que insistimos em cantar e ela abriu a boca, num choro alto e sentido. Eu nunca soube a razão disso, mas foi algo que veio e passou. Logo em voltou a curtir.  É curioso como a dor da perda se torna, com o tempo, uma espécie de companheira silenciosa. Ela não desaparece, mas se transforma numa lembrança constante, que nos ensina a valorizar cada instante e a viver de forma mais plena. Para mim, esse aniversário é uma oportunidade para conversar com outras mães que já perderam um filho. Sei muito bem que, depois de uma dor tão intensa, o jeito de lidar com os dias de festa se transforma. Não é uma dependência emocional, mas sim uma forma de ressignificar as lembranças, de encontrar na dor a possibilidade de um novo entendimento. Aos poucos, aprendi que aquele dia, que um dia foi revestido de tanta festividade, pode ser encarado como um espaço de reflexão e de amor. Não se trata de negar a saudade, mas de permitir que ela conviva com a gratidão pelos momentos vividos e pelas lições aprendidas. O aniversário da Marcella sempre foi, para mim, um exercício de coragem. É olhar pra trás com amor e também para o futuro com a esperança de que, mesmo em meio à dor, encontramos forças pra continuar. Acredito que essa experiência – embora única e profundamente pessoal – pode trazer algum conforto a outras mães que enfrentam a mesma batalha interna. Quando me perguntam “O que você vai fazer no seu aniversário?”, muitas vezes respondo que não planejei nada, que prefiro deixar o dia acontecer de forma diferente. E tem razão nisso: hoje a comemoração não se resume simplesmente a festas ou encontros. É um dia de reflexão, de memórias e de pensamentos que me fazem repensar o significado da vida. É um tempo em que a celebração da existência se mistura com a dor da perda e, acima de tudo, com a certeza de que cada momento, por mais efêmero que seja, tem um valor imensurável. Hoje, eu abraço a dualidade desse dia: a alegria por estar viva e o pesar por não ter a Marcella ao meu lado. Ao compartilhar essa história, quero tocar especialmente o coração das mães que, assim como eu, carregam a cicatriz de ter perdido um filho. Sei que não é fácil encarar o espelho e enxergar a ausência de um ser tão amado. Contudo, também aprendi que é possível transformar a dor em aprendizado, em empatia. Perder alguém que você ama é uma marca que jamais se apaga, mas essa marca pode se transformar numa fonte de força, permitindo-nos ajudar outras pessoas a encontrar sentido em meio à adversidade. O meu aniversário, hoje, é uma oportunidade para mostrar que, mesmo quando a saudade aperta, há um caminho para a cura, mesmo que ele seja lento e cheio de altos e baixos. Essa transformação vem do entendimento profundo de que a vida segue, e que a memória da Marcella continua viva não apenas em mim, mas também em cada pessoa que compartilhou momentos de ternura e solidariedade. A cada mensagem acolhedora que recebo, a cada abraço apertado, sinto que não estou só nessa jornada. É preciso reconhecer que a dor da perda pode

Quer um segredo para a felicidade? Tenha um pet

Lua chegou sem fazer barulho, pequenina, ligeira e atenta a tudo. Ela é a cachorrinha da família – ou melhor, a cã, porque eu sempre achei que o feminino de cão combina mais com cã do que com cadela. Essa escolha, evidentemente algo bem a meu ver comigo, já coloca a Lua em um lugar especial: é uma cã que veio transformar meu cotidiano. Atualmente com quatro anos, ela chegou em abril de 2021, no auge da pandemia de Covid-19, época em que todos vivíamos cada dia com uma intensidade diferente. Embora tenha um jeitão meio bravo, que transparece na maneira de latir forte e resolver os problemas do dia a dia, a Lua trouxe uma alegria imensa pra nossa casa. Quatro anos se passaram, e é difícil imaginar a vida sem ela – nem mesmo em minhas viagens, quando sinto a sua falta, fica claro o quanto ela faz parte do meu equilíbrio. Moramos num espaço grande, ideal pra que a Lua corra à vontade e explore cada cantinho. Os vizinhos têm gatos, e esses sempre acabam entrando no nosso quintal pelas árvores, o que faz com que a Lua, autoproclamada dona absoluta do território, se encha de energia pra correr e expulsar esses hóspedes indesejados. É engraçado ver como ela resolve os próprios dilemas latindo alto – seja quando o interfone toca, quando chega visita ou quando alguém se empolga no volume da conversa em casa. Talvez por conta dessa personalidade tão forte e até um pouco desconfiada, ela ainda tenha dificuldade de se acostumar com pessoas novas. Por exemplo, quando vai visitar a casa dos meus pais, já começa a latir de novo pra todas as pessoas, mesmo que elas já sejam conhecidas. Muitas pessoas consideram essa atitude um tanto exagerada e chamam a Lua de cachorra chata. Para mim, porém, isso não diminui o charme e a inteligência dela. Ela é linda, amorosa, brava – e também pidona. Basta a gente começar a arrumar a mesa que ela já se aproxima, senta pertinho e lança aquele olhar que, de tão suplicante, quase obriga a dividir um pedacinho do que estamos comendo. Essa mistura de teimosia e doçura é algo que só faz com que eu a ame cada vez mais. Confesso que nunca fui fã de cachorros, desde a infância. Tivemos outras duas em casa, a Tita e a Lala, ambas muito mais mansas do que a Lua. Nunca me aproximei delas do mesmo jeito – sempre tive aquele receio, quase um medo, de que logo viesse alguma mordida. Talvez seja algum trauma antigo, mas mesmo vendo que elas viveram em casa por mais de dez anos, a conexão verdadeira com elas nunca aconteceu. Com a Lua foi diferente: foi amor à primeira vista. Assim que ela chegou, eu me apeguei rapidamente. Inicialmente, ela seria da Ana, mas quando ela se mudou pra estudar, acabei me tornando a tutora oficial – o que me honra, pois posso dizer que sou o humano de referência dessa cã tão especial. Entre eu, o Fernando e a Ana, ela é mais apegada a mim, mas não há dúvida de que ela ama todos de coração. A presença da Lua me ensinou a conhecer um amor completamente diferente. Sempre achei que ter apoio emocional apenas em seres humanos era o bastante, mas a verdade é que animais de estimação realmente nos ajudam a superar momentos difíceis da vida. Sei que muita gente atribui a importância dos animais à dependência emocional, mas no meu caso, não se trata de uma necessidade excessiva – é apenas o reconhecimento de que a companhia dos bichos tem um poder curativo importante. Recordo que, quando a Marcella morreu, em 2022, pude perceber como o aconchego da Lua aquietava o meu coração. Basta ela se encostar e fazer lugar perto de mim que eu encontro o acolhimento necessário para seguir adiante, sem que isto me torne emocionalmente dependente. Há quem ache que a nossa relação com os animais pode ser vista como um excesso de carinho ou até uma forma de apego exagerado. Eu também já fui dessas pessoas que não entendiam essa ligação intensa. Contudo, com o tempo, aprendi que os animais, como a Lua, vão muito além de serem apenas companheiros. Eles nos ensinam sobre resiliência, ajudam a transformar nossa maneira de encarar a vida e colaboram pra suavizar os percalços do dia a dia. De fato, nas horas de dificuldade, o olhar sincero e a presença tranquila de um cão podem ser o alento que falta pra muitos de nós. Além de tudo, ter a Lua tem sido uma verdadeira aula de convivência e paciência. A maneira como ela enfrenta o mundo com aquela postura determinada e, ao mesmo tempo, carinhosa, me lembra de que cada desafio pode ser transformado em aprendizado. Ela me faz ver que, mesmo quando surgem obstáculos – seja o preconceito com a sua forma de ser ou as dificuldades em socializar com pessoas novas –, há sempre um jeitinho de superar as adversidades com leveza e até bom humor. Quando ela late por qualquer motivo, não é só barulho – é uma expressão da sua personalidade vibrante, de sua vontade de proteger seu espaço e de sua determinação em marcar presença. A história da Lua também é uma história de transformação pessoal. Eu, que sempre tive certo receio de me apegar demais aos animais, aprendi a enxergar a importância do apoio incondicional que ela me oferece, sem que isso me torne vulnerável ou dependente. É um equilíbrio delicado, mas que mostra como os bichos podem completar nossa existência e trazer significado pra cada dia vivido. Essa mudança de perspectiva abriu meu coração pra ver o valor intrínseco dos animais e a beleza de uma convivência harmoniosa, pautada na simplicidade e na sinceridade. Com um quintal espaçoso e muita liberdade pra correr, a Lua também nos mostra que o espaço onde vivemos não é só uma casa. Ele é um refúgio de experiências, um lugar onde podemos nos

Diferente não é desigual

Ser mãe atípica é uma experiência que, com o tempo, foi se revelando com toda a sua complexidade. Quando a Marcella nasceu, há 37 anos, o mundo parecia não estar preparado para ela – e nem para mim, que era mãe muito jovem e, de repente, me vi imersa numa realidade que muitos julgavam pesada demais. Hoje, apesar de a minha filha morar no céu desde 2022, sigo vivendo cada dia com a certeza de que ser mãe atípica é, antes de tudo, aprender a encarar a vida de um jeito diferente, com mais coragem e autenticidade. Pra quem não sabe, a Marcella tinha paralisia cerebral. Ela não andava, não falava e não enxergava como as outras crianças, mas esses detalhes nunca definiram quem ela era. Marcella sempre foi uma menina linda, com uma alegria contagiante que iluminava qualquer ambiente em que estivesse. Eu nunca vi na deficiência uma barreira, mas sim uma forma singular de viver que nos aproximava de uma verdade maior: a de que cada ser é completo do seu jeito. No começo, confesso que os olhares curiosos e as perguntas impensadas me desafiavam. Frases como “tadinha dela”, “tadinha de você” ou mesmo perguntas insensíveis como “ela dorme direito?” e “por que ela precisa fazer fisioterapia se não anda?” eram comuns na minha rotina. Muitas pessoas não conseguiam enxergar além da diferença física e se perdiam nas próprias limitações para compreender a singularidade do ser humano que a Marcella representava. Aquele tipo de comentário nunca foi sobre a Marcella propriamente; era mais sobre a dificuldade que as pessoas têm de lidar com o que elas não conhecem ou não conseguem entender. Com o passar dos anos, fui aprendendo a lidar com esses comentários e, principalmente, a transformar cada situação em uma oportunidade de esclarecer dúvidas e abrir os olhos de quem insistia em ver o “diferente” como algo negativo. Foi nessa caminhada que o termo “mãe atípica” começou a fazer sentido pra mim. Eu nunca tinha me identificado com essa expressão, mas hoje vejo que ela engloba não só a jornada de cuidar de uma criança com deficiência, mas também a de todos aqueles que se vêm obrigados a transpor barreiras invisíveis impostas por uma sociedade que, às vezes, ainda não sabe lidar com as diferenças. A partir da convivência com a Marcella, aprendi que a verdadeira luta não era a batalha contra a deficiência dela – que nunca foi um obstáculo para a felicidade, mas sim contra o preconceito e a insensibilidade do mundo. Claro que houve momentos de constrangimento, de enfrentar olhares de pena e de ouvir perguntas insensíveis, mas também tive a alegria de ver sorrisos genuínos e palavras de apoio quando as pessoas conseguiam enxergar a verdadeira essência da Marcella. Hoje, me consola saber que as coisas estão mudando. A discussão sobre a importância do respeito às diferenças ganhou espaço e, aos poucos, a sociedade tem se aberto pra compreender que cada ser tem seu ritmo, suas lutas e suas belezas. O termo “mãe atípica” ganhou relevância justamente por representar essa pluralidade de experiências. Assim como os filhos das mães atípicas são diferentes, essas mães também trazem na bagagem uma resiliência e uma combatividade que muitas vezes passam despercebidas. Ser mãe atípica é encarar a vida com leveza, mesmo quando o peso dos olhares e das expectativas externas parece querer nos esmagar. Eu sei que pra muitas mães a rotina com um filho com deficiência pode parecer um desafio imenso. Não estou aqui pra dizer que a minha experiência foi sempre fácil – claro que lidamos com nossas dificuldades –, mas confesso que para mim o mais marcante foi ver a autenticidade da Marcella e a forma como ela transformava cada momento em um ensaio de alegria. O que muitos chamam de “luta” era, na verdade, uma maneira singular de viver e de demonstrar que o amor não se mede pelas capacidades físicas. Cada dia com a Marcella foi um aprendizado. Aprendi a superar os preconceitos alheios, a transformar os momentos de silêncio em diálogos profundos e, principalmente, a celebrar cada pequena vitória. Quando alguém via a Marcella e dizia “ah, ela não faz nada”, eu sorria e lembrava que a verdadeira essência dela estava em cada gesto, em cada olhar e em cada risada que compartilhávamos. A Marcella não precisava andar pra nos mostrar que era capaz de nos ensinar o valor da vida; ela fazia isso simplesmente por ser quem ela era. E é justamente essa autenticidade que eu quero compartilhar com todas as mães que, assim como eu, se veem nesse rótulo de “mãe atípica”. A jornada de cuidar de uma criança com deficiência tem seus desafios, sim, e não vou negar que existem dias difíceis. Mas também há dias em que a leveza de um sorriso, a cumplicidade de um olhar e a certeza de que estamos fazendo o melhor possível tornam tudo muito mais gratificante. O que aprendi com a Marcella é que a força de uma mãe atípica está em transformar cada obstáculo numa oportunidade de crescimento – tanto para ela quanto para aqueles que a cercam. Embora a Marcella já não esteja fisicamente entre nós, sinto que ela continua presente em cada palavra, em cada gesto de carinho que ofereço às mães que precisem de um empurrãozinho pra seguir em frente. No espaço “Uma filha no céu”, que dedico exclusivamente a ela, encontro um refúgio onde posso reverenciar as memórias construídas e também dialogar com outras mães que vivem realidades semelhantes. Nada do que vivi com a Marcella me transformou em alguém superior ou melhor do que as outras mães; apenas me ensinou a encarar as diferenças com mais humanidade e a valorizar o que realmente importa: o amor sincero e a capacidade de ver beleza naquilo que o mundo, por vezes, tenta minimizar. Sou orgulhosamente mãe atípica, e carrego comigo a certeza de que gestos de empatia e palavras de apoio têm o poder de transformar a realidade. O desafio é grande, sim, mas

Dialogar pra entender

A comunicação eficaz é aquela arte de fazer com que as pessoas se entendam de verdade, sem precisar de discursos complicados ou palavras rebuscadas. No dia a dia, essa habilidade se revela em momentos simples – como uma conversa sincera que desfaz mal-entendidos e aproxima corações, criando um clima de respeito e confiança. Lembro-me de um episódio ocorrido em uma reunião de trabalho que, à primeira vista, parecia ser apenas mais um encontro rotineiro, mas acabou nos mostrando como a forma de abordar uma situação pode mudar completamente o rumo dos acontecimentos. Naquela manhã, nossa equipe se reuniu para discutir o planejamento de um grande projeto que estava prestes a ser lançado. O líder do grupo, empolgado com a ideia, apresentou um conceito novo e audacioso para solucionar um problema com clientes. No entanto, enquanto ele falava, percebi que alguns colegas pareciam confusos e até hesitantes; suas expressões misturavam surpresa com um leve receio. Ao finalizar sua apresentação, sem perceber a tensão que pairava no ar, o colega deixou o ambiente com a sensação de missão cumprida. Mas era evidente que algo não havia se comunicado como deveria. Durante o intervalo, um dos membros da equipe se aproximou e, com calma, compartilhou: “Eu entendi a proposta de um jeito um pouco diferente do que foi apresentado. Acho que faltaram alguns detalhes que nos ajudariam a visualizar melhor o projeto.” Foi nesse momento que todos nós percebemos que, apesar da empolgação inicial, a mensagem não tinha sido clara o suficiente para que a equipe se sentisse segura e preparada para os próximos passos. O que aconteceu a seguir mudou a dinâmica daquele encontro. Em vez de surgirem acusações ou a criação de um clima negativo, nosso líder parou um instante, e, com humildade, pediu que alguém explicasse exatamente onde havia ficado a dúvida. Esse simples gesto de abrir espaço para o diálogo transformou a situação. Um por um, os colegas foram expondo as partes que não ficaram claras – desde a definição dos papéis de cada um até os prazos e as metas a serem cumpridas. À medida que a conversa se desenrolava, percebi que a comunicação não se tratava apenas de falar, mas de ouvir com atenção. Cada comentário era acolhido com interesse e o líder fez questão de anotar as sugestões e pontos de melhoria que surgiam. O ambiente, que no início carregava uma tensão silenciosa, foi se tornando leve e colaborativo. Todos compreenderam que a essência da comunicação eficaz estava justamente na disposição de esclarecer, e, principalmente, em ser autêntico ao reconhecer que nenhum plano é perfeito desde o início. Ao invés de impor uma ideia de cima para baixo, o líder demonstrou que a melhor forma de conduzir um projeto ambicioso era ouvir as perspectivas de todos, permitindo que cada um contribuísse para a construção de um plano coeso e realista. Esse episódio, que já faz bons anos que aconteceu, me marcou e me fez refletir sobre como a comunicação, quando exercida com empatia e clareza, se torna uma ferramenta poderosa tanto para resolver problemas imediatos quanto para fortalecer a confiança dentro de um grupo. Eu estava iniciando a minha carreira e isso me ensinou que críticas são oportunidades para reforçar o diálogo e ajustar os detalhes que, por vezes, passam despercebidos na empolgação do momento. Ao mesmo tempo, a experiência me lembrou que a responsabilidade de transmitir uma mensagem clara é de quem fala – afinal, não adianta ter uma ideia brilhante se ela não é compreendida por aqueles que dependem dela para fazer acontecer. Após a reunião, senti que algo maior estava em jogo: a certeza de que para construir relações sólidas, tanto no trabalho quanto na vida pessoal, precisamos cultivar o hábito de perguntar, escutar e confirmar as intenções do outro. Esse processo se mostra simples, mas exige coragem e humildade. Coragem para admitir que talvez não tenhamos dito tudo de forma clara; humildade para reconhecer que as interpretações podem variar e que o diálogo é o remédio para qualquer mal-entendido. Pense em situações cotidianas, como quando encontramos um amigo que parece distraído ou distante durante uma conversa. Muitas vezes, aquela pessoa pode estar enfrentando uma dificuldade ou simplesmente não ter entendido bem o que quisemos transmitir. Se, ao invés de julgar ou tentar forçar uma resposta, optarmos por dizer algo como “Não sei se me expressei bem, você me entendeu?”, a conversa pode tomar um rumo muito mais produtivo. Essa pequena atitude demonstra respeito e interesse genuíno, abrindo espaço para que o outro se sinta seguro para compartilhar seus sentimentos e pontos de vista. No âmbito familiar, a comunicação eficaz também é essencial para resolver conflitos e evitar que pequenos mal-entendidos se transformem em grandes dores. Eu mesma já vivi momentos em que apenas uma palavra trocada de forma precipitada quase gerava um problemão. Certamente você que me lê agora já viveu algo assim também. Voltar-se para uma comunicação mais clara implica também repensar a maneira como utilizamos as nossas palavras. Em uma era em que as mensagens são enviadas por e-mail, WhatsApp e redes sociais com a mesma rapidez, é comum que se perca o tom, a entonação e os gestos que acompanham a fala. Por isso, é fundamental perceber que, muitas vezes, uma simples mensagem que parece seca ou ambígua pode ser facilmente mal-interpretada. Quando isso acontece, o ideal é não hesitar em ligar para a pessoa, marcar uma conversa pessoalmente ou até mesmo enviar um recado complementando a informação de maneira mais gentil. A tecnologia, por si só, não substitui a riqueza de uma comunicação presencial, onde os olhares, os sorrisos e até os silêncios têm peso e significado. A partir daquele episódio na reunião, aprendi que o melhor da comunicação está em transformar dúvidas em oportunidades de crescimento. Colocar questões, pedir esclarecimentos e reconhecer que ninguém tem sempre a resposta perfeita é o verdadeiro caminho para construir relacionamentos mais autênticos e colaborativos. Foi justamente essa abertura para o diálogo que transformou um possível constrangimento em um momento de

Pessoas que deixamos pelo caminho

Ao longo de nossas vidas, nós conhecemos pessoas que, de uma forma ou de outra, deixam marcas profundas em nossa história. Algumas delas acompanham nossos passos por décadas, tornando-se parte da nossa identidade, enquanto outras surgem apenas para ensinar-nos valiosas lições sobre si mesmas e sobre quem somos. Hoje, quero compartilhar uma reflexão sobre as coisas e as pessoas que, por mais importantes que tenham sido, precisam, em algum momento, ser deixadas pelo caminho. Não estou falando de perdas físicas ou externas, mas de renúncias internas, da necessidade, em certos momentos, de colocar um ponto final em relações que já não contribuem para o nosso bem-estar e para o nosso crescimento. Há experiências que, quando olhamos para trás, revelam que nem tudo o que vivemos pôde ou podia permanecer. Há pessoas que caminharam conosco por quase uma vida, compartilhando momentos, histórias, alegrias e até dificuldades. São amizades e relacionamentos que parecem eternos, mas que, por vezes, se mostram frágeis, como a ilusão de que tudo pode durar para sempre. Quando a confiança se quebra – e a traição se instala de maneira inesperada – coração, mesmo resistente, sente que é hora de mudar de rota. Não se trata de nutrir rancor ou de apagar com mágoa todos os momentos vividos, mas de reconhecer, com tristeza e gratidão, que chegou a hora de seguir em frente. Há uma sensação que nos invade quando percebemos que certas pessoas, mesmo as que sempre tiveram um papel central na nossa história, deixaram de ser o que precisávamos para continuar crescendo. Lembro-me de como, quando criança, acreditávamos na eternidade das amizades e na permanência de quem amávamos. Contudo, a experiência nos ensina que, por mais importantes que certas relações sejam, elas também podem se tornar uma carga pesada, um eco constante de decepções que, com o tempo, vai nos impedindo de viver plenamente o presente. Hoje, eu me encontro diante de uma escolha que, embora dolorosa, é inevitável. Uma pessoa que esteve ao meu lado por tanto tempo – alguém com quem compartilhei quase toda a minha vida – precisou ser deixada para trás. Essa decisão não foi tomada de forma impulsiva ou movida pelo desejo de vingança, mas sim com uma lucidez que só os anos de convivência podem proporcionar. Lembro-me de tantos momentos felizes, das tardes em que rimos juntos, das conversas longas e das confidências trocadas tempos atrás. Cada um desses instantes construiu uma história rica e complexa, que hoje carrego com carinho, mesmo que a traição tenha abrandado o brilho de alguns deles. Quando a verdade veio à tona, como um relâmpago em meio à calmaria, percebi que a confiança, esse alicerce tão fundamental das relações, havia sido irremediavelmente abalada. Não se trata apenas de uma mentira, mas de uma quebra que ressoa através do tempo, fazendo-me entender que, por mais que o passado seja precioso, o presente e o futuro exigem integridade e honestidade. A lembrança do filme “Coisas que perdemos pelo caminho” me vem à mente em momentos como este. Ele nos mostra, de forma sutil e tocante, que há pessoas que surgem, ficam por um determinado tempo, e outras que é preciso deixar partir. Nem todos os relacionamentos são destinados a durar para sempre, e isso não precisa ser motivo de tristeza profunda, mas sim um convite à reflexão sobre o que realmente importa. A vida é feita de encontros e despedidas, de momentos que se somam e outros que se dissipam como a névoa ao amanhecer. Reconhecer isso é um passo importante para que possamos aprender a valorizar o que ficou e aceitar o que se vai. Ao refletir sobre esse processo de deixar ir, percebo que a minha decisão de romper essa relação não foi um ato de frieza, mas sim uma demonstração de amor próprio. Amo as memórias que construímos juntas, mas também reconheço que a minha felicidade não pode depender de algo que, fundamentalmente, me fez sentir desvalorizada e usada. Não é falta de carinho nem de gratidão pelos anos partilhados, mas sim uma aceitação de que certas atitudes rompem os laços invisíveis que nos unem. Quando a confiança é rompida, todo o sentimento de segurança se esvai, deixando apenas um rastro de dúvidas e mágoas que, se não forem devidamente cuidadas, podem corroer o coração. Essa jornada de discernimento nos ensina a importância de escolher com sabedoria as batalhas que vamos travar e, principalmente, as pessoas com quem decidimos caminhar. Há um poder imenso em reconhecer quando alguém não merece mais a nossa confiança, em abrir espaço para o novo e, simultaneamente, resgatar a nossa paz interior. Deixar ir não quer dizer esquecer ou negar o passado; quer dizer honrá-lo, mas sem a necessidade de carregá-lo como um peso que impede o nosso crescimento. É uma forma de cuidar de si mesmo, de permitir que outras, novas histórias, se iniciem sem a sombra de mágoas antigas. Confesso que, nos dias seguintes a essa decisão, meu pensamento se perde em flashbacks do que foi vivido. Revivo momentos de sorrisos espontâneos, de conversas que pareciam eternas, e percebo que, apesar da dor da traição, eu ainda sou grata por tudo o que aquecia meu coração. Agradeço pelos instantes de cumplicidade e pelas lições aprendidas que, de alguma forma, contribuíram para me fazer mais forte, mais consciente do que preciso para ser feliz. Hoje, mais do que nunca, compreendo que a gentileza com quem somos e a integridade com que escolhemos nossas companhias são fundamentais para a construção de uma vida plena. Viver é também aprender a soltar. Soltar o que já não nos serve, o que nos prende a um passado que, por mais doce que seja, não pode ser revivido. É um exercício de coragem, porque muitas vezes sentimos que estamos deixando para trás uma parte de nós mesmos. Mas a verdade é que o que realmente fica é a essência, aquilo que nunca se vai, e que caminha conosco em cada passo que damos. Mesmo quando parece que o tempo nos arranca

Criada entre dois rios

Há um cheiro que nunca saiu de mim: mistura de terra molhada depois da chuva, brisa de eucalipto que chegava com o vento, anunciando o início do dia e aquele aroma doce das águas do rio Fanado, que marcou a minha infância e a de quem viveu em Minas Novas, cidade que eu tomei como minha. Quando eu e minha família nos mudamos pra lá eu tinha seis anos de idade e logo descobri que rios não são só água — são histórias vivas que nos fazem nadar na memória. Minas Novas tinha dois rios que brigavam por nossa atenção: o Fanado e o Bom Sucesso. Eles ainda existem, mas não como antes, não como a minha memória registrou. O Fanado era nosso parque de diversões diário — águas quase sempre rasas onde dava pra ver as pedrinhas coloridas no fundo e as piabas fugindo dos nossos pés descalços. O Bom Sucesso era mais sério; os adultos diziam que era perigoso e sempre tinha histórias de gente que se afogou por lá. Mesmo assim existia um lugar mágico: o Poço do Encontro, onde as águas se misturavam, levando consigo um pedacinho do que cada um de nós vivia naqueles momentos divertidos. Naquela época ninguém precisava de relógio: sabíamos que o dia estava acabando quando o sol começava a bater nas pedras mais altas do rio ou quando chegava a notícia de alguma mãe chamando pelo filho. São muitas as cenas que me vêm agora como o futebol dos meninos na prainha, debaixo da ponte ou a descida até o “Encontro” em uma grande boia (câmara de ar de algum caminhão) que abrigava várias crianças entre risos e cutucões em busca de um bom espaço. E as disputas pra saber quem ficava mais tempo dentro da água… E tinha os domingos que inúmeras vezes eram dias sagrados porque íamos passar horas à beira do Fanado com toda a família. Minha mãe levava panelas velhas e improvisava um fogão em cima das pedras lisas da barragem. Enquanto ela preparava o almoço nós corríamos para brincar e nadar até cansar as pernas. A regra era clara: nadávamos antes de comer porque depois do almoço era proibido entrar na água (“faz mal”, diziam). Então aproveitávamos cada minuto até os dedos ficarem enrugados e os lábios roxos de frio… mesmo no calor de 35 graus! Ainda lembro do cheiro daquele almoço: feijão, frango caipira – que chegava semi-pronto  – e arroz empapado, tudo colocado no prato de metal meio amassado, aquele cheirinho de fumaça que eu ainda consigo sentir… O Poço do Encontro era nosso lugar secreto — íamos lá poucas vezes por ano porque ficava mais longe e exigia permissão dos pais (que raramente davam). Quando conseguíamos chegar até ele por conta própria? Era uma aventura digna dos livros! Ali as águas eram um pouco mais profundas,a gente se apoiava nas pedras e sentia as correntezas puxando levemente nossos pés. Não tínhamos medo; éramos donos daquele mundo aquático onde nada podia dar errado… ou pelo menos era isso que pensávamos entre gargalhadas molhadas! Os anos passaram num piscar de olhos… Hoje volto às margens do Fanado adulta mas ainda com os mesmos dedinhos ansiosos por mergulhar numa infância guardada em caixinhas especiais na memória… Só que algo mudou: onde antes havia água cristalina cobrindo minhas pernas agora há apenas filetes rasos correndo preguiçosamente entre pedras cobertas de alguma sujeira esverdeada… O Bom Sucesso quase secou também; quando chove e os rios se enchem as águas transbordam, mas são impróprias pra banho. As pessoas ainda vão ao rio, algumas ainda arriscam fazer uma comida de domingo na barragem, mas as crianças não frequentam mais o rio, como se fosse o quintal de casa. Hoje percebo algo lindo: esses rios podem estar secando na realidade mas dentro de mim continuam transbordando vida como sempre fizeram desde meu primeiro mergulho. Minha história com Minas Novas não cabe em palavras simples… Ela tem gosto de feijão mal cozido feito numa panela torta ao ar livre; tem textura áspera das pedras onde sentei tantas vezes pra secar ao sol depois dos banhos… E acima disso tudo tem amor – muito amor – por um lugar onde aprendi ser pequena diante da grandiosidade da natureza mas imensamente feliz com tão pouco além dum rio generoso me ensinando flutuar nas correntezas da vida…

O oxigênio das relações

Imagina esta cena: você está numa cafeteria, pede um capuccino com canela extra e recebe um café simples… sem canela… e morno. Você reclama educadamente com o garçom e ele responde: “Ah, mas o dia tá quente! Café morno é refrescante.” Pronto: ali nasce um cliente frustrado que nunca mais volta (e ainda conta a história pra todo mundo no Instagram). Pois é! Se tem algo que aprendi em 30 anos de comunicação é que feedback negativo não é um ataque pessoal — é uma oportunidade de ouro para criar conexões mais profundas e até fidelizar pessoas. Mas como fazer isso sem parecer robótico ou defensivo?  Feedback é como oxigênio para qualquer relação — seja com clientes, colegas ou até familiares (sim, aquela tia que critica seu “jeito moderno” de criar os filhos também está te dando feedback… mal dado, mas está). O lado brilhante: Elogios são fáceis de lidar (“Seu atendimento me deixou mais feliz que chocolate no domingo!”). Eles alimentam nossa autoestima e criam laços positivos. O lado sombrio: Críticas e reclamações são como espinhos — machucam na hora, mas podem virar buquês se soubermos podá-los direito (e aqui mora o segredo). Dado curioso: Um estudo da Harvard Business Review mostrou que empresas que respondem bem às reclamações têm até 70% mais chance de reter clientes. Ou seja: quem escuta com empatia não só resolve problemas como ganha fãs fiéis! A verdade é que ninguém gosta de receber críticas — nosso cérebro as processa como ameaças (sim, é biológico!). Por isso muitos profissionais cometem esses erros clássicos ao lidar com reclamações:  Fingir que não viu: Ignorar mensagens ou deixar no vácuo. Spoiler: isso só piora tudo (o cliente se sente invisível e vai gritar mais alto nas redes sociais). Automatizar demais: Responder com “Agradecemos seu contato… blá blá” igual a um robô do século passado faz o cliente pensar: “Será que estou falando com uma parede?” Jogar a culpa no outro: Frases como “Isso não é minha responsabilidade” ou “O senhor não entendeu o processo” são gasolina no fogo da irritação alheia. Vou contar uma história real (com final feliz): Uma vez, uma empresa entregou um pacote meu completamente destruído — parecia ter sido usado como bola num jogo de futebol e não era culpa de quem fez a entrega, foi de quem vendeu mesmo, da forma como a embalagem foi feita. Reclamei por e-mail e recebi uma ligação no mesmo dia da gerente regional dizendo: “Senhora, desculpe pelo susto. Vamos refazer sua entrega hoje mesmo e enviar um brinde especial pelo transtorno.” Adivinhem? Isso aconteceu há bastante tempo e até hoje sou cliente. Confesso que quando reclamei estava muito brava e aquela resposta ágil e delicada me desarmou. Alquimia corporativa  Como fazer essa mágica acontecer na prática? Seguem os passos testados e comprovados nos cursos que ministro em empresas (sim, funciona até com sogras críticas!): Passo 1 – Escute ativamente (sem interromper) Quando alguém reclama, não tente justificar nada antes de entender toda a história (mesmo que você já saiba o final!). Deixe a pessoa desabafar pra eu ela possa baixar a guarda. Passo 2 – Valide os sentimentos Nada desarma mais um cliente irritado do que frases como: “Entendo perfeitamente sua frustração.” “Se fosse comigo também ficaria chateado.” (Nota: Isso NÃO significa assumir culpa antes de investigar o problema!) Passo 3 – Peça desculpas sinceras Um simples “Sinto muito por isso ter acontecido” vale mais do que mil explicações técnicas sobre “falhas no sistema”. Mantenha o foco na solução! Passo 4 – Ofereça soluções rápidas (e surpreenda) Pronto! Você transformou uma crítica numa oportunidade, com gestos simples. Empatia não é só dizer “sinto muito” — é se colocar no lugar do outro sem julgar suas emoções (mesmo quando elas parecem exageradas!). Um estudo da Universidade da Estônia revelou que equipes treinadas em comunicação empática reduziram conflitos internos em 40% (!) apenas praticando duas coisas simples: Ouvir sem interrupções por pelo menos 2 minutos; Repetir o que entenderam antes de responder (algo como:“Então sua preocupação principal é…”). Na prática profissional? Funciona assim ao responder reclamações online também! Evite respostas prontas cheias de juridiquês corporativo; escreva como se estivesse conversando pessoalmente (com coração e bom humor!). Vou compartilhar dois casos incríveis para você ver como essa alquimia funciona na vida real: 📌 Caso 1 – O hambúrguer frio que virou marketing viral Um cliente reclamou no antigo Twitter (hoje X) de um lanche frio em uma rede famosa — em vez de deletarem o comentário ou darem uma resposta padrão, responderam com humor inteligente (e humildade!) algo como: “Nosso hambúrguer fugiu do grill antes da hora porque tava ansioso pra te conhecer… Vamos te enviar um novo quentinho + um voucher para compensar!”. O tweet viralizou positivamente! 📌 Caso 2 – A Empresa Que Virou Amiga da “Reclamona Profissional” Uma mulher era conhecida por sempre reclamar nas redes sociais de marcas… Até que uma loja respondeu publicamente com gentileza extrema + convite para co-criarem melhorias nos produtos dela. Hoje ela é embaixadora voluntária da marca! Quer implementar isso na sua empresa ou negócio? Anote essas dicas rápidas: Treine sua equipe para ESCUTAR primeiro; Crie protocolos claros para respostas rápidas (mas permita personalização!); Monitore métricas de satisfação após reclamações resolvidas; Surpreenda positivamente sempre que possível (um chocolate junto à encomenda reenviada? Sim!). E se errar? Peça desculpas novamente! Lembre-se do ditado sábio dos profissionais de comunicação experientes (como eu hehe): “Erros são oportunidades vestidas de vermelho berrante.”  Amigos leitores deste blog, cuidar bem das reclamações não é só sobre resolver problemas técnicos — é sobre mostrar às pessoas que elas importam mais do que qualquer regra corporativa ou processo rígido. Na minha vida pessoal aprendi que cada desafio carrega dentro dele sementes de transformação — e nas empresas não é diferente! Portanto… Da próxima vez que alguém chegar até você reclamando (seja cliente, colega ou familiar), respire fundo e pense neste texto e lembre-se: Feedback negativo bem tratado vira elogio futuro.