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Comunicar e transformar

Deixei para trás as paisagens serenas e a vida tranquila de Minas Novas, no Vale do Jequitinhonha, movida pelo sonho de ser repórter e pela promessa interior de dar voz às histórias que merecem ser contadas. No meu sonho, eu não queria apenas ser repórter. Eu sonhava ser repórter de revista. Quando eu estava na faculdade as revistas semanais faziam muito sucesso e jovens jornalistas sonhavam mesmo em trabalhar numa daquelas redações. Ao me formar em Jornalismo, em 1996, deparei-me com a realidade de um mercado já saturado, onde as redações ofereciam salários abaixo do mínimo da categoria. Encontrei um caminho na assessoria de comunicação, decidida a ser a melhor profissional possível.

Durante quase três décadas, dediquei-me a esse ofício, testemunhando a transformação da comunicação. A tecnologia não apenas revolucionou a forma como nos conectamos, mas também alterou profundamente o panorama da imprensa mundial. As redações, antes vibrantes centros de investigação e narrativa profunda, enfrentam crises desencadeadas pela digitalização, a queda das receitas de publicidade e a pressão por velocidade em detrimento da qualidade. As reportagens investigativas e as análises aprofundadas deram lugar a textos cada vez mais curtos, voltados para captar a atenção rápida das redes sociais. A necessidade de dar a notícia em primeira mão, muitas vezes, compromete a apuração consistente e rigorosa.

Essa crise global na imprensa não é apenas uma questão de sobrevivência dos veículos de comunicação, mas também uma preocupação com a qualidade da informação que chega ao público. A superficialidade e a proliferação de notícias falsas são desafios que ameaçam a essência do jornalismo. Como representante da velha guarda, sinto profundamente essa transformação e o seu impacto na sociedade.

Embora eu não tenha sido repórter de revista, sempre desempenhei o papel de repórter nas empresas em que trabalhei ou prestei serviços. O jornalismo está entranhado em mim; nunca me vi em outra profissão. Quando alguém me pergunta o que eu seria se não fosse jornalista, sempre digo que só o jornalismo serve para mim. E brinco: no máximo, eu seria cozinheira, porque é outra coisa que sei fazer direitinho.

Foi nesse cenário, ao perceber o desinteresse pelo português correto e pelas notícias sérias, que comecei a buscar mais uma maneira de atuar com comunicação, algo além do que eu já fazia e que me trouxesse felicidade. A morte da minha filha, em 2022, foi o ponto de partida para eu criar coragem de fazer a mudança necessária. Eu tinha um bom emprego, do qual eu gostava, mas que já não me fazia feliz. Quatro meses após a morte da Marcella, decidi me demitir. Nada fazia sentido. Tinha 53 anos e não tive medo de encarar o mercado de trabalho, nem do etarismo. Ele existe, mas até aqui não fui um alvo.

Decidi então que era hora de compartilhar minha experiência acumulada de maneira que pudesse impactar positivamente outras vidas. Tem estado na moda falar em missão de vida, propósito, não tenho nada contra. E acho que o que vem acontecendo comigo não é uma mudança de propósito e sim um acréscimo, na minha já extensa lista de atividades. Encontrei algo muito interessante pra fazer: treinar e capacitar pessoas para desenvolver uma comunicação mais assertiva. Acredito que a comunicação eficaz é uma habilidade essencial que traz ganhos significativos em todas as áreas da vida, desde o ambiente profissional até as relações pessoais.

Eu já treinava pessoas na última empresa em que trabalhei e foi lá que percebi que isso tinha muita relação com o meu perfil e com o que eu gosto de fazer. O jornalista tem um olhar apuado para tudo e eu vi problemas de comunicação em muita gente ao longo da minha carreira. Pessoas com dificuldade de falar em público, que não conseguiam liderar equipes por insegurança, uma série de coisas. Meu objetivo é ser uma ponte entre o conhecimento prático e a melhoria contínua, ajudando as pessoas a comunicarem-se de forma clara e impactante, evitando armadilhas comuns e maximizando seu potencial.

Ao refletir sobre minha jornada, vejo um caminho pavimentado por desafios e conquistas, cada passo guiado pela paixão por comunicar e conectar. A maturidade revelou-se uma aliada poderosa, trazendo a clareza necessária para essa nova fase. Percebi que posso fazer um milhão de coisas, sem deixar de ser jornalista. Afinal, toda essa transformação tecnológica ampliou o já vasto leque de atribuições que temos. E, sem querer, eu acertei quando usei o meu tempo livre, para atuar em outras empresas como prestadora de serviços de comunicação.

Eu tinha emprego fixo e fazia um pouco de tudo, à parte: assessoria de imprensa, cobertura de eventos, planejamento de comunicação, roteiros, livros institucionais, campanhas políticas… isso me deu uma bagagem imensa e segurança para mudar de rumo quando foi preciso. Não mudei tanto assim, continuo fazendo tudo isso. O que houve foi a coragem de encarar sozinha. Agora o segredo tem sido administrar esse monte de coisa que eu inventei de fazer. No final das contas foi a escolha pelas assessorias que me permitiu ir além do jornalismo e fincar o pé na comunicação, como um todo.  

Encorajo a todos a abraçarem suas experiências como fontes de sabedoria e a usarem essa força para transformar suas próprias vidas e carreiras. Que possamos valorizar a maturidade não apenas como a passagem do tempo, mas como um convite à transformação e ao crescimento pessoal e profissional. No meu caso, em específico, treinar pessoas tem sido gratificante. São treinamentos que cabem em qualquer empresa, porque existe dificuldade de comunicação em todo lugar. Outro dia, no final de um desses cursos, quando a turma estava reunida para um café, uma das alunas me chamou num canto, me abraçou e disse: “Obrigada! Você mostrou que eu cometo erros e que isso é simples de resolver”. Um outro me falou que eu destravei a sua comunicação. Venho juntando esses relatos e tem sido bom fazer isso. Aliás, bom demais.     

E você, já pensou em mudar de rumo ou acrescentar algo à sua carreira? Compartilhe sua experiência nos comentários!

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Helder Lima
Helder Lima
1 mês atrás

Muito bom!

José Luiz Braga Coelho
José Luiz Braga Coelho
1 mês atrás

Massa!! Liderança, clareza e firmeza na informação!!!…