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Maldade disfarçada de gentileza

Hoje, quero compartilhar uma experiência que me marcou muito nos últimos dias e que revela a maldade das pessoas. Chego a pensar em pra onde o mundo está indo com tudo isso. Eu não sou ingênua, nem um pouco. Aliás, eu sempre digo que o meu maior ativo é a minha inteligência. Sem falsa modéstia, sou uma pessoa perspicaz, tenho uma facilidade grande de ver à frente, enfim, não é fácil me passar pra trás.

Na semana passada, no dia do meu aniversário, fui vítima de uma tentativa de golpe. Descobri depois tratar-se de algo conhecido, o golpe do dia do aniversário. Uma pessoa te liga, tem sua data de aniversário e seu endereço e diz que é de uma floricultura, informando que alguém lhe comprou flores pela data especial. A floricultura “esqueceu” de cobrar a taxa de entrega do “meu admirador” e eu tinha duas opções: pegar na floricultura ou receber em casa e pagar a tal taxa, no valor de R$ 5,90, no cartão. Não no pix ou dinheiro, só no cartão. Escolhi a segunda opção, afinal era meu aniversário e eu não queria sair de casa para buscar as flores.

O entregador chegou e fui à porta com o cartão. Segundo ele, a maquininha só funcionava por aproximação. Tenho o hábito de só aproximar o cartão depois de ver o valor no visor (algo que sempre aconselho a todos) e quando pedi a ele para ver, ele inventou um problema na máquina e não me mostrou. Pegou outra máquina, mesma coisa, não vi o valor não aproximei o cartão. Ele sugeriu que eu pegasse outro cartão, disse que não tinha, ele ligou para a “floricultura” e pediu autorização para receber em dinheiro, em seguida disse que precisaria voltar à loja para mudar a forma de pagamento. Foi embora e não voltou mais.

Quando voltei pra dentro de casa, havia várias ligações do meu banco. Retornei e fui informada sobre uma série de tentativas de compras com meu cartão de crédito. Para meu azar, o banco bloqueou as tentativas de compra no crédito, mas não o fez com o débito e a pessoa conseguiu fazer cinco compras no meu cartão, sendo três delas de altos valores. 

Acionei o banco e devo ser ressarcida, pois foi uma falha de segurança, já que eu não digitei minha senha e não aproximei meu cartão. O falso entregador conseguiu clonar meu cartão mesmo assim.

Nessa história o valor roubado tem menos importância, não só porque vou ser ressarcida; a gente trabalha e paga as contas, isso é menor. O grande mesmo é a maldade humana. Isso acabou com o meu aniversário. Fiquei com aquele garoto na cabeça. Bonito, educado, bem arrumado… Poderia ser meu filho… 

E o que me deixa mais incomodada é a frieza calculada por trás de cada ação daquele rapaz. A cordialidade, o sorriso, a educação… tudo meticulosamente orquestrado para me fazer baixar a guarda. E, por um instante, ele conseguiu. Permiti que entrasse em meu espaço, que me abordasse com sua história de taxa de entrega esquecida, sem imaginar que ali, naquele momento, eu estava sendo vítima de um golpe.

Não me iludo. Sei que a maldade existe e sempre existiu. Mas o que me assusta é a banalização dela, a forma como se manifesta em pequenos gestos do cotidiano, disfarçada de cortesia e boa vontade. É como se a empatia estivesse se esvaindo, dando lugar a um individualismo exacerbado, onde o outro se torna apenas um meio para se atingir um fim, não importando os danos causados.

Ainda estou com aquele rapaz na cabeça e, às vezes, me pego pensado em sua mãe, em sua família. Tento imaginar se eles teriam conhecimento de seus atos, se compartilhavam dos mesmos valores. Ou se a família está fora de tudo isso e aquele garoto diariamente engana a todos, como fez comigo. Descobri depois, conversando com pessoas próximas, que muitos jovens do convívio social delas, clonam cartões. Simples assim, garotos que as pessoas conhecem, “trabalham” com isso. Fiquei mais triste ainda. É mais comum do que eu imaginava. Aí vem a pergunta que os pais se fazem: Onde foi que eu errei? 

Mas não quero me render ao pessimismo. Acredito que ainda há esperança. Que a bondade pode, sim, prevalecer sobre a maldade, desde que estejamos dispostos a cultivá-la em nós mesmos e a transmiti-la aos outros. Que possamos resgatar valores como a solidariedade, a compaixão e o respeito ao próximo, para que cenas como essa se tornem cada vez mais raras em nosso cotidiano.

E, acima de tudo, que possamos nos manter vigilantes, sem perder a capacidade de acreditar na bondade humana, e ao mesmo tempo sem nos deixar enganar pela falsa cordialidade daqueles que se aproveitam da nossa boa-fé. Que possamos seguir colecionando instantes de alegria, de amor e de esperança, sem permitir que a maldade alheia nos roube a beleza da vida.

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Resumo:

Recebi uma ligação informando que, por um erro, não foi cobrada a taxa de entrega das flores de um admirador. Durante a transação, o entregador desviou o procedimento, utilizando outro cartão e se recusando a mostrar o valor na maquininha, a fim de clonar meus dados.

Após o ocorrido, fui alertada por meu banco de tentativas fraudulentas de compra, com sucesso na clonagem do débito, causando prejuízos de alguns milhares de reais.

Embora o valor financeiro seja ressarcido, o mais marcante foi a constatação de que a maldade pode se disfarçar de gentileza e profissionalismo, mesmo em plena luz do dia.

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Vera Lúcia Machado Lopes
Vera Lúcia Machado Lopes
10 dias atrás

Imagino sua decepção. Também já fui vítima de um golpe. Fiquei muito tempo rezando todos os dias pela intenção do ou dos malandros. Até hoje quando lembro do episódio, peço a Deus pra ter piedade dele(s).