Demorei certo tempo para entender o sentido da expressão “saudade eterna”. É uma expressão corriqueira, que nunca me chamou muita atenção. A vida da gente é repleta de situações comuns, às quais só damos real importância quando experimentamos. Foi com a morte da Marcella que “saudade eterna” ganhou significado para mim. É simples e difícil. Simples porque é literal, aquela saudade que vai me acompanhar pra sempre, e difícil porque, pra sentir essa saudade, é preciso perder alguém.
Passaram-se as festas de fim de ano e o aniversário do meu pai. Foram dias intensos, de muita alegria, com a família toda reunida. É emocionante ver a família junta e, felizmente, nessa época todos nos reunimos, ninguém falta às comemorações. Exceto ela. É quando a saudade mais aperta. Criei uma capa que me ajuda a compreender que, em razão de sua condição, era natural que a Marcella partisse cedo. Então, desde o início, sempre aceitei. Mas daí a naturalizar a ausência há uma distância enorme, que não sei se quero percorrer.
Perder um filho causa uma dor inigualável; por isso, entendo quando as pessoas me dizem que tenho que seguir em frente, aceitar, deixá-la partir. Eu deixei e estou bem quanto a isso, o que não quer dizer que não penso mais nela, que não sinto uma pontada de dor quando ela não está presente nas festas… Entendo a reação das pessoas, porque dificilmente alguém que não passou e continua passando pelo luto de um filho saberá como é.
Marcella está em paz, eu sei. Assim como sei que ela viveu o tempo dela, como tinha que ser. E mesmo sabendo disso, ainda penso nela todos os dias e sinto a falta dela todos os dias. Não dá para explicar, só dá para sentir.
Ela me ensinava sobre amor incondicional e perseverança. Cada sorriso sem palavras, cada olhar de compreensão, mesmo nas suas limitações, falava muito sobre o brilho interno que ela carregava. Vivemos momentos preciosos que estão gravados na minha memória, e que revivo com carinho nas noites silenciosas, quando a saudade se faz mais presente.
Os desafios que enfrentamos juntas apenas consolidaram nossa ligação. Marcella me trouxe uma força que eu não sabia possuir até então. O aprendizado era mútuo. Enquanto cuidávamos dela, ela também cuidava de nós. Era impossível não aprender com a leveza, a aceitação e a resiliência que ela continuamente nos mostrava.
Vejo ecos dela em cada canto da casa, nos lugares que frequentemente visitamos, nas músicas que ela gostava de ouvir repetidamente. O tempo pode suavizar as arestas da dor, mas é na permanência dessa “saudade eterna” que encontro a delicadeza das lembranças.
Hoje, escrevo para testemunhar a marca que ela deixou. Pode parecer que a missão dela foi breve, mas em cada instante que compartilhamos, ela conseguiu transcender o tempo e nos deixar lições que vamos carregar pela vida.
Viver sem a presença física da Marcella é uma prática contínua de aceitação. Continuo aprendendo a integrar sua lembrança ao meu cotidiano, sabendo que a dor da saudade é um tributo ao amor que permanece. Com o tempo, refaço minha trajetória, com gratidão por termos tido a Marcella em nossas vidas, transformando o que poderia ser vazio em um espaço preenchido de amor eterno.
Amor incondicional.
Sempre!